quinta-feira, 30 de julho de 2009

Admirável ciência nova

O livro Admirável Mundo Novo, do escritor inglês Aldous Huxley, é um romance de 1932 que nos reporta a uma sociedade futurística, na qual reina a estabilidade. Nele, o planeta é regido pelo Estado Mundial, cujo lema é “Comunidade, Identidade, Estabilidade”, baseado especialmente na sociedade de consumo e no fordismo. Dentre as peculiaridades que surgiram da mente do autor, imaginando uma provável sina da humanidade, é possível encontrar previsões chocantes, que fazem pensar em que outras adivinhações podem ter sido feitas, excepcionalmente no campo científico.

A ordem social estabelecida na obra é composta por seres humanos biologica e psicologicamente condicionados, de forma a haver uma estratificação intencional. Os “Centros de Incubação e Condicionamento” são responsáveis por um método similar à inseminação artificial, em que a fecundação é induzida laboratorialmente – o que, na época da edição, já podia ser considerado ficção científica – , com o diferencial de que a inserção, na realidade, não ocorre. Os zigotos são submetidos a uma gestação igualmente artificial, na qual ocorre a multiplicação em inúmeros indivíduos iguais (Processo Bokanovsky) e a predestinação social.

Muito embora a engenharia genética fosse desconhecida à época da publicação, o autor cutucou a ferida que hoje se tornou um assunto difundido, questionado e repudiado: a capacidade científica de manipular o ser humano. Na história, são inseridas substâncias inibidoras nos fetos que induzem à classe social. Os Ípsilons constituem-se dos mais “inferiores”, necessários para o trabalho que não envolva o mínimo de capacidade cerebral, acima deles estão os Deltas, os Gamas, os Betas, e, finalmente, os Alfas, dotados de corpos e mentes privilegiados.

Trata-se de uma sociedade fundamentada em desigualdade, contudo, em uma desigualdade inconsciente, em que os indivíduos são novamente incutidos a serem felizes e resignados. Os métodos utilizados são o Condicionamento Pavloviano, de autoria de Ivan Pavlov (que pode ser mais bem explanado no artigo da Wikipédia) e a hipnopédia, também conhecido como sleep-learning. Fora isso, o lazer possibilitado pelas inovações tecnológicas transcende tudo o que havia sido criado até 1932.

A exemplo do que foi citado, e algo que, em um primeiro momento, me passou desapercebido na leitura, é o uso dos helicópteros. Aldous Huxley aposentou quase que por definitivo os automóveis, fazendo com que seus personagens usassem constantemente as aeronaves com asas em espiral. Curiosamente, apesar de o primeiro voo bem-sucedido de um helicóptero ter sido realizado em 1907, foi apenas em 1937, em Berlim, que Hanna Reitsch pilotou um helicóptero completamente controlável, seis anos após o livro ter sido escrito.

A capacidade visionária do autor foi ainda mais além ao imaginar o que foi chamado de cinema sensível:

As luzes da sala apagaram-se; letras chamejantes destacaram-se em relevo, como suspensas na escuridão. TRÊS SEMANAS EM HELICÓPTERO, SUPERFILME CANTANTE, FALANTE, SINTÉTICO, COLORIDO, ESTEREOSCÓPICO E SENSÍVEL. COM ACOMPANHAMENTO SINCRONIZADO DE ÓRGÃO DE PERFUMES.

A chamada sétima arte, criada pelos Irmãos Lumière no fim do século XIX, foi bastante difundida nas primeiras décadas do século XX. Não obstante, a universalização do cinema sonoro – ainda em preto e branco – somente ocorreu ao final da década de 1920, pouco antes do lançamento do livro. Huxley ultrapassou o limite do impossível para a época ao sugerir a estereoscopia (3D), a sensibilidade, e os efeitos olfativos. Mesmo hoje, a realidade criada pela IMAX figura como futurística. Pessoas do mundo todo pagam caro para assistir a 40 minutos de filme nas telas gigantes ou nas cúpulas cujas extremidades excedem nosso campo de visão, proporcionando uma experiência incrivelmente realista. Mas, e quanto à tecnologia olfato-sensível?

A edição especial da revista Super Interessante “Guia das Novas Tecnologias” de 2008 traz uma linha do tempo com as tendências tecnológicas até 2030. O ano de 2020 exibe a nota: ”Chega ao mercado a televisão 3D. E COM CHEIROS! – Japan National Project”. Já em relação à sensibilidade, apenas chegou ao meu conhecimento que os simuladores de movimento da D-Box ganharam modelo (mas não preço) popular, algo parecido com uma poltrona doméstica. Entretanto, é fácil imaginar uma invenção semelhante à descrita na obra. Uma roupa, por exemplo, construída com a tecnologia de nanotubos de carbono poderia ser configurada para emitir impulsos elétricos a diferentes partes do corpo de acordo com a cena a ser passada.

Especulações a parte, Admirável Mundo Novo revelaria um futuro até mesmo invejável se não fosse pelo individualismo dissimulado dos homens. Todos são persuadidos a viverem infantilmente, sem nunca criarem vínculos além das frequentes práticas sexuais com parceiros alternados, acreditando, assim, estarem inseridos na ordem social. Um pouco dessa filosofia pode ser aplicada no avanço das relações virtuais, na banalização da impessoalidade. É preciso estar atento para que aquilo que temos de melhor não se torne obsoleto diante do rumo manipulável da brilhante ciência que surge.

domingo, 28 de junho de 2009

A História da Atomística

O atomismo é um estudo que muito se alterou ao longo dos séculos. A princípio como partícula elementar, o átomo passou a pudim de passas e finalmente ao modelo planetário atual.
Surgido praticamente de forma intuitiva, o conceito de átomo teve sua origem na Grécia Antiga, com os filósofos Demócrito, Leucipo e Epicuro. Não tendo base científica, tais gregos imaginavam um modelo atômico no qual o átomo fosse indestrutível, imutável. No entanto, levando em consideração a época em que viveram, é certo que tiveram sucesso em suas suposições.

"Por definição há cor, / Por definição há doce, / Por definição há amargo, / Mas na realidade há átomos e espaço." É a frase atribuída a Demócrito de Abdera que resume sua concepção dos átomos, mostrando não estar totalmente equivocado em relação a seus postulados.

Em 1808, um cientista chamado John Dalton publicou o livro Uma nova filosofia química que fundamentou a atomística como ramo científico. Em seu livro, Dalton baseou-se principalmente em Epicuro, estabelecendo um modelo atômico no qual o átomo encontra-se como partícula elementar e constituinte de toda a matéria. Entre seus escritos, afirmava também que átomos de um mesmo elemento químico possuiriam mesma massa, assim como átomos de diferentes elementos teriam massas distintas, fato comprovadamente errôneo.

As experiências de Dalton utilizavam a combinação de certas quantidades de matéria que eram consideradas substâncias simples. No entanto, muitas fórmulas foram equivocamente atribuídas a certas substâncias, como é o caso a água (H2O), definida apenas com HO.
Seu estudo, mesmo partindo de premissas infundadas, possibilitou o início do estudo do átomo, assim como suas utilidades na química e na física. Mais tarde cientistas com John Thomson deram continuidade a atomística, até a concepção atual.

Thomson, em suas experiências com raios catódicos, percebeu a
emissão de partículas com massa inferior a do átomo, que possuíam carga negativa, nomeadas elétrons. Após receber o Prêmio Nobel de Física, Thomson criou seu próprio modelo, que envolvia um átomo composto por elétrons imersos em uma massa elétrica e homogeneamente positiva, o denominado “pudim de passas”.

Um grande salto foi dado com o célebre experimento de Rutherford, no qual um material radiativo envolto por um recipiente de chumbo emitia partículas alfa (dois prótons e dois nêutrons) na direção de uma delgada lâmina de ouro. Obedecendo ao modelo de Thomson, era esperado que as partículas sofressem pequenos desvios, no entanto, notificou-se que a maioria das partículas não sofria desvio algum, certas partículas desviavam e algumas poucas voltavam, o que surpreendeu os cientistas envolvidos.

Rutherford imaginou um modelo no qual o átomo fosse composto por um núcleo maciço, que conteria grande parcela da massa total, e camadas de elétrons ao redor, o que poderia explicar o resultado do experimento. Hoje se sabe que o modelo do núcleo composto de prótons e nêutrons, em torno do qual orbitam níveis eletrônicos é aceito pela ciência, tendo sofrido importantes alterações conceituais durante o século XX que passaram a explicar certas dúvidas. Os nomes de destaque são Niels Bohr e Arnold Sommerfeld, motivo da nomenclatura Bohr-Sommerfeld atribuída a concepção atual da composição atômica.